É formado em Jornalismo e Direito e possuiu Pós-Graduação em Direito Tributário pela FGV. Antes de ser Auditor Fiscal, foi repórter, redator e secretário de redação de jornais como o Extra e o Lance.
A política sempre surgiu como opção em seus testes vocacionais, mas ele só decidiu ser candidato a um cargo após um curso de Desenvolvimento Pessoal. Filiado ao Patriotas, é pré-candidato a deputado federal e, em entrevista a DS/São Paulo falou sobre sua carreira, a questão da paridade e suas propostas.
Como foi sua carreira antes de ingressar na Receita Federal?
Fábio Maccacheiro: Comecei fazendo Engenharia Química na UFRJ. No entanto, com três anos de faculdade, resolvi ser narrador de futebol, então fui fazer Jornalismo, curso no qual me formei. Trabalhei no Jornal Lance como repórter, passei pelo jornal Extra também. Lá, trabalhei como redator e secretário de redação. Saí do jornal para fazer concurso. Todo mundo ficava me olhando meio torto, questionando: “Cê vai sair para fazer concurso?”. Vou, eu dizia. Não conseguia mais trabalhar de 12 a 14 horas por dia. Teve ocasião que entrei na redação às três da tarde no domingo e sair na segunda às quatro da manhã. Queria uma vida mais estável, por isso prestei o concurso.
Conte como foi sua trajetória como Auditor Fiscal.
FM: Eu entrei na Receita em 2004, minha primeira unidade foi a DRF/Manaus. Um ano depois, já assumi a chefia do SEORT (Serviço de Orientação e Análise Tributária). No fim de 2006, fui pra Brasília, onde trabalhei como assessor do gabinete da Coordenação Geral de Arrecadação, hoje o nome é Subsecretaria de Arrecadação. Na época, o superintendente da 8ª RF estava precisando de gente na Derat. Por isso, vim para São Paulo em 2007 e assumi a chefia da DIORT (Divisão de Orientação e Análise Tributária) da Derat. Fiquei até outubro de 2008 quando eu assumi o cargo de Delegado Adjunto lá em Presidente Prudente, onde fiquei dois anos e pouco. Em 2011, voltei para a capital para ser chefe do Semac (Serviço de Acompanhamento dos Maiores Contribuintes) da Derat. Depois, assumi a chefia substituta da Dimac (Divisão de Maiores Contribuintes) na 8ªRF, fiquei cinco anos nesse cargo. Logo depois, fui para o Aeroporto de Guarulhos onde trabalhei no plantão de cargas, ficando lá durante seis meses antes de entrar de licença. Esse é o legal da Receita, poder conhecer pessoas diferentes, lugares diferentes, unidades que trabalham de uma forma diferente.
Você teve alguma participação em alguma direção sindical ou associativa?
FM: Não. Sempre fui filiado tanto ao sindicato quanto a Unafisco, Apafisp e Anfip. Mas nunca tive uma atuação como dirigente sindical. Quando comecei minha carreira na Receita, em Manaus, fui em alguns eventos sindicais como representante da minha unidade. Quando meus colegas não podiam ir e eu me oferecia. No entanto, conversando com meus colegas, eles falaram: “É complicado você ter um cargo na Administração e ter essa atividade sindical”. E então pensei que, de fato, as pessoas podiam confundir e então eu preferi ficar na Administração, mas sei que é muito importante a atividade sindical. É fundamental para nossa categoria e para qualquer categoria ter uma instituição que represente as suas condições de trabalho, que organize as pessoas. O sindicato é uma forma muito importante de conseguir nossos pleitos e de debater nossas questões.
Como você avalia a trajetória da campanha salarial dos últimos anos?
FM: Em 2014, começou a Operação Lava Jato. Os Auditores Fiscais tiveram uma participação fundamental nos autos de infração decorrentes dessa ação. Desde aquela época, começou um ataque a nossa classe. Só que por boa-fé de muita gente do sindicato, foram tentar essa negociação do acordo salarial com agentes políticos denunciados pela operação. Vendo o comportamento dos agentes políticos nesses últimos três anos, é possível perceber que jamais quiseram fazer com que a Receita trabalhasse. A ideia era deixar as pessoas desmotivadas, divididas, e eles conseguiram isso. Então, nesse tempo todo, eu jamais acreditei que a gente fosse conseguir alguma coisa porque essa não era a ideia de quem estava no comando da Presidência e no comando do Congresso Nacional. Então, independentemente da atuação do sindicato, qualquer que fosse o grupo comandando a entidade, teria sido enganado por esse grupo de agentes políticos. E por isso essa guerra toda. Falei isso durante as Assembleias de 2015, sobre o risco de deixar eles dividirem a categoria com a questão do bônus, porque eu fui a favor do subsidio. Eu não tenho direito a paridade, mas sempre fui a favor do subsidio por entender que isso era a melhor forma de remunerar uma categoria que exerce uma função essencial ao Estado assim como os magistrados, os juízes, os membros do Ministério Público. O subsídio é uma forma muito mais democrática de fazer com que uma atividade de Estado funcione direito. E por isso eu fui contra o bônus. Além disso, tem a questão dos nossos colegas aposentados e das pessoas que tem direito a paridade, isso é uma questão constitucional.
Qual sua opinião sobre a paridade?
FM: Se a gente vive num estado de direito, temos que respeitar aqueles que têm direito. Porque quando eles entraram no órgão, o contrato, vamos dizer assim, era que eles teriam paridade. Eles fizeram da Receita o que ela é hoje. Eu entrei num órgão de excelência, não por que eu comecei a trabalhar nele, mas porque existiam pessoas lá dentro trabalhando para isso e a elas devemos agradecer por elas terem construído a Receita. Para mim, o essencial é esse respeito ao direito e isso também ia unir a categoria. O que os agentes políticos fizeram? “Ah, vamos dividir”. Pronto. Você propõe um bônus que não seja extensivo aos aposentados e você começa a dividir as pessoas. Conseguiram. Hoje está todo mundo dividido, todo mundo revoltado e cansado, por que não conseguem tirar esse assunto da cabeça.
Como você percebe o humor da categoria depois de tantos anos de mobilização?
FM: Você tem os lutadores que estão animados para lutar pela remuneração da categoria e pessoas desmotivadas que estão se sentindo desprezadas pelo governo. Acho que isso não é um desprezo, mas acontece porque os agentes políticos sabem da força do nosso trabalho e estão querendo minar por causa disso. Se a gente não fosse relevante, nada disso aconteceria. E é por isso mesmo que temos que brigar, porque somos relevantes e podemos fazer a diferença para mudar o modo como funciona a política no Brasil.
Como a vida dos Auditores Fiscais foi afetada pelo contexto político dos últimos anos?
FM: Eu acho que a vida de todo brasileiro foi afetada por esse contexto político. A vida daquelas atividades essenciais ao Estado também, pois, nesse momento do país, temos a função de combater a corrupção e a lavagem de dinheiro assim como a Justiça na hora de julgar, o Ministério Público e a Polícia na hora de investigar. É claro que eles iam se voltar contra nós, é o contra-ataque de quem está comandando o sistema. Durante esses meses, vimos que essas pessoas estão preocupadas em manter um sistema de poder e para isso estão dispostas a tudo, a pagar e a receber. Como foi com a gente essa enrolação salarial, também nada de bom foi feito para a população nesse período de três anos. A nossa categoria foi tão prejudicada quanto a população. Foi todo mundo prejudicado nessa história. Nesse contexto, não teria como conseguirmos alguma coisa porque tem uma força muito maior. Essa é a importância de representação política no Congresso, não só para os Auditores, mas para a população inteira. Não é possível que sejamos controlados por esse tipo de gente. Pessoas comuns tem entrar nesse jogo porque não tem como mudá-lo se não fazemos parte dele, se evitamos política. É uma questão de sobrevivência nossa.
Por que você decidiu se candidatar a deputado federal?
FM: Foi por ter certeza que o único jeito mudar o país é mudar as pessoas que fazem política. Não adianta querer que façam algo por nós, os políticos não têm a nossa cabeça, não estão preocupados com os nossos problemas. Quando se tem certeza do que se quer fazer na vida, você faz, independentemente do risco, porque fazer é muito mais importante do que tentar ir por outro caminho. Foi por isso que resolvi ser pré-candidato. Acho que tem meio evitar essa política de troca e de negociação que existe hoje. Podemos bolar projetos que façam diferença para a população e que outras pessoas achem que é importante. Não tem problema se eu não aparecer, quero que os projetos sejam executados. Quero que a categoria seja defendida. A nossa intenção é mudar a forma de fazer política para gente transformar a vida das pessoas. E para isso, não importa o partido. Me importa que os projetos andem.
Quais são os temas que você pretende debater durante a campanha eleitoral?
FM: A minha grande bandeira, no contexto geral, é a Educação. Quero trabalhar para colocar empreendedorismo e educação financeira no sistema público. Não se consegue transformar o país se não for pela Educação. E, com esse avanço da tecnologia, se a gente mantiver a escola do jeito que ela é hoje, ela formará desempregados. Se a gente não mudar isso, não muda o país. Além da educação, quero incentivar o empreendedorismo com uma forma alternativa de tributação ao Simples. A grosso modo, no Simples, você paga pela receita bruta, não importa a sua despesa, não importa o seu custo. Qual é o problema nisso? Nos dois primeiros anos, provavelmente uma empresa opera no vermelho. O cara é pequeno, opera no vermelho, paga aluguel, paga financiamento e paga tributo. Queremos trazer o modelo inglês. Como é esse modelo? Se você ganha até 400 mil reais por ano, você não precisa pagar pela sua receita, você paga pelo seu lucro. Se você não tiver lucro, não paga. Por que? Porque hoje 57% dos postos de trabalho do país são criadas por pequenas e médias empresas.